sábado, 1 de setembro de 2007

Lei proíbe alunos de usar celular dentro da sala de aula em SP

Projeto, que prevê a proibição na rede estadual e particular, tem de ser sancionado pelo governador
Luísa Alcalde, do Jornal da Tarde
SÃO PAULO - Daqui um mês alunos de escolas estaduais e particulares de São Paulo podem ficar proibidos de usar o celular em sala de aula, caso o projeto de lei 132/07, que proíbe o uso dos aparelhos em classe seja sancionado pelo governador José Serra.

A proposta, de autoria do deputado estadual Orlando Morando (PSDB), foi aprovada terça-feira, 28, na Assembléia Legislativa. Como não precisa de regulamentação, a nova lei entrará em vigor assim que for aprovada pelo governo. Nos intervalos das aulas os telefonemas estão liberados.

O projeto confere aos professores a tarefa de fiscalizar os alunos. Na prática, isso já acontece principalmente em colégios particulares que regulam o uso do aparelho na escola por meio do regimento interno. O Dante Alighieri, nos Jardins, na zona sul da capital, recomenda que o professor tire o aparelho do aluno flagrado conversando em classe e o devolva no final da aula.

Já no Colégio Arquidiocesano, na Vila Mariana, também na zona sul, os aparelhos usados em aula são recolhidos e entregues somente aos pais dos alunos. "O celular tumultua o ambiente e desfavorece o aprendizado", afirma Isabel Cristina Michelan Azevedo, diretora educacional do Arquidiocesano.

A novidade foi bem recebida pelo presidente do Sindicato das Escolas Particulares de São Paulo (Sieesp), José Augusto de Mattos Lourenço. "Sala de aula não é lugar para celular, iPod, mp3 e outros aparelhos", disse. Na rede pública a lei vai servir de apoio aos professores que terão um argumento a mais para tentar barrar o uso do telefone em classe.

Outro lado

Rodrigo Pimenta da Silva, 18 anos, aluno da Escola Estadual Albino César, no Tucuruvi, na zona norte, diz que os professores avisam que não permitem que os aparelhos fiquem ligados durante as aulas, mas, segundo ele, nem todos os colegas respeitam essa regra.

"Tem uns cinco ou seis que sempre atendem. A professora fala para desligar porque senão vai colocá-los para fora da classe, mas sempre fica por isso mesmo", conta o rapaz. Edson Silva, de 15 anos, aluno do primeiro ano do ensino médio de uma escola estadual aprova a proibição.

"Tem dia que não dá para prestar atenção na aula. São vários celulares tocando ao mesmo tempo", reclama. Ele diz que leva o dele, mas não deixa o aparelho ligado. William Pereira da Silva, de 16 anos, também aluno da rede estadual, desaprova a nova lei e considera que existem chamadas que precisam ser atendidas com urgência. "Não só de familiares, mas de amigos e namoradas", diz ele.

A Assembléia Legislativa também aprovou na noite de terça-feira o projeto de lei do deputado Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) que obriga as escolas a prevenir e combater o bullying (violência física ou psicológica praticada contra pessoa ou grupo, como apelidos e pichações depreciativas). Até o bullying pela internet vai ser vigiado e punido.

Programa de Inclusão leva mais estudantes negros e pobres à USP

Inclusp dá pontos adicionais no vestibular da Fuvest a alunos de escolas públicas, sem distinção de renda ou cor
Renata Cafardo

O programa de inclusão da Universidade de São Paulo (USP), que começou a funcionar neste ano, aumentou em 9,5% o número de negros matriculados na instituição. O Inclusp, como é chamado, dá pontos adicionais na nota do vestibular da Fuvest para alunos de escolas públicas, sem distinção de renda ou cor. "O resultado mostra que o programa é uma alternativa ao sistema de cotas", diz a pró-reitora de graduação da USP, Selma Garrido Pimenta.

As cotas existem atualmente em 16 das 57 universidades federais, mas sempre houve muita resistência a uma eventual reserva de vagas na USP. A maior universidade do País, no entanto, também sofria pressão para aumentar o número de alunos carentes e negros, que representavam apenas cerca de 20% do total. O Inclusp foi lançado no ano passado - inspirado em experiência semelhante da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - e tinha o objetivo de mostrar que poderia haver inclusão sem cotas.

Os resultados indicam também que 76,4% dos estudantes de escolas públicas matriculados neste ano têm renda familiar inferior a R$ 3 mil. A maior parte deles (39,5%) vem de famílias com renda entre R$ 500 e R$ 1.500. Só 3,7% desses alunos têm renda familiar acima de R$ 7 mil. Isso ocorre apesar de as escolas públicas que mais aprovam estudantes na Fuvest não estarem em zonas periféricas e pobres, como o Estado mostrou em reportagem no início do mês.

"Fica nítido que o aproveitamento nas aulas dos alunos que vieram de escolas públicas é menor, incluindo o meu", diz Jaqueline Saes, de 21 anos, aluna do primeiro ano de História da USP. A renda da família - que inclui ela, a mãe e a avó - é de R$ 2 mil. Jaqueline conta que trabalha em uma farmácia há três anos e teve de estudar muito aos finais de semana para conseguir ser aprovada. "As pessoas achavam que eu não tinha chance de entrar na USP e agora se espantam por eu estar aqui", diz, sobre os colegas de faculdade.

A USP não divulgou o porcentual de alunos de renda baixa entre o total de matriculados em 2007, beneficiados ou não pelo Inclusp. O site da Fuvest mostra as estatísticas apenas até 2006. Elas indicam que, tradicionalmente, cerca de 40% dos aprovados vêm família com renda de até R$ 3 mil.

Pretos e Pardos
No ano passado, entraram na USP 1.227 alunos negros (pretos e pardos). Neste vestibular, foram 117 a mais. O número representa atualmente 13,4% dos estudantes da universidade. O porcentual de brancos ingressantes caiu de 77,1% para 76,6%. "Indiretamente, quando se ajuda o pobre, o negro é beneficiado", diz o aluno do primeiro ano de Química da USP, Arcelino Bezerra da Silva, de 21 anos. Ele é negro e estudou em escola pública. O Inclusp - que dá bônus de 3% na nota dos estudantes de escolas públicas - aumentou em 17 pontos o desempenho de Silva na Fuvest.

"Os mecanismos dessa ação afirmativa ainda mantêm a exclusão dos pretos e pobres", acredita Douglas Belchior, coordenador da ONG Educafro, que administra cursinhos para alunos carentes. Ele defende que a USP adote um sistema de cotas, beneficiando tanto negros quanto carentes. "A Fuvest usa a meritocracia e privilegia alunos que tiveram mais oportunidades nas escolas particulares."

Segundo os dados mais recentes da universidade, o Inclusp aumentou em 11% o número de estudantes de escolas públicas na instituição. Eles representam atualmente 26,7% do total de alunos.

De acordo com Selma, a partir de 2008 todos os novos matriculados na USP deverão obrigatoriamente responder a um questionário socioeconômico para que as informações sobre a totalidade dos alunos sejam mais precisas. Hoje, só alunos que precisam de bolsas fornecem esse tipo de informação à instituição.

Notas

Os números da USP mostram também que os alunos de escolas públicas aprovados tiveram média de 37,01 (em 100) na prova da primeira fase da Fuvest, considerada baixa. A média de todos os cerca de 150 mil candidatos da Fuvest em 2006, por exemplo - aprovados ou não aprovados - foi superior: 41,39.

Entre os matriculados na USP, independentemente de terem estudado em escolas públicas ou não, as médias também costumam ser mais altas. No curso de Administração, por exemplo, em 2006, a média dos matriculados foi de 70,5 pontos na primeira fase. Os alunos de História e de Letras tiveram média de 62,2 e 56,6, respectivamente.